Comentário ao Salmo 17 – Santo Agostinho

1 1“Para o fim. Ao servo do Senhor, Davi”, isto é, mão forte, Cristo enquanto homem. “Ele dirigiu ao Senhor as palavras deste cântico, no dia em que o Senhor o livrou das mãos de Saul. Disse, pois” (2Rs 12,1). “No dia em que o Senhor o livrou da mão de todos os seus inimigos e da mão de Saul”, rei dos judeus, que o haviam pedido para si. Pois, como se diz que Davi significa mão forte, Saul seria petição. É sabido como o povo pedira um rei (1Rs 8,5) e o recebeu, não segundo a vontade de Deus, mas conforme a sua própria vontade.

2 2Falam neste salmo Cristo e a Igreja, o Cristo total, Cabeça e Corpo: “Eu te amarei, Senhor, minha força”. Eu te amarei, Senhor, que me fortificas.

3 3“Senhor, minha firmeza, meu refúgio, meu libertador”. Firmaste-me, Senhor, porque em ti me refugiei. Refugiei-me porque me libertaste. “Meu Deus, meu auxílio, nele esperarei”. Meu Deus primeiro me prestaste o auxílio de teu chamado, e então posso esperar em ti. “Meu protetor, força de minha salvação, meu redentor”. Meu protetor, porque de mim não presumi, erguendo contra ti a ousadia da soberba, mas em ti mesmo encontrei a força, isto é, a firme exaltação e salvação. Tu me remiste para que eu a encontrasse.

4 4“Com louvores invocarei o Senhor e serei salvo de meus inimigos”. Não procurando a minha glória, mas a do Senhor, eu o invocarei, e então os erros da impiedade não terão como me prejudicar.

5 5“Envolveram-me dores de morte”, isto é, da carne. “E torrentes de iniquidade me perturbaram”. A turba iníqua, agitada por algum tempo, como as torrentes pluviais que logo desaparecem, veio aterrorizar-me.

6 6“Dores de inferno me cercaram”. Nos inimigos que me cercaram, visando perder-me, havia dores causadas pela inveja, que produzem a morte e levam ao inferno do pecado. “Colheramme de surpresa laços mortais”, surpreenderam-me. Pretendiam ser os primeiros a prejudicarme, mas depois eles é que receberiam a paga. Tais homens arrastam à perdição os seduzidos por sua jactância de justiça. Gabam-se, contrapondo-se aos gentios, mas possuem a justiça só de nome, não na realidade.

7 7“Em minha angústia invoquei o Senhor, e clamei a meu Deus. E ele ouviu a minha voz de seu templo santo”. No meu coração, onde Deus habita, ele ouviu a minha voz. “E o meu grito em sua presença”. Meu íntimo clamor diante dele, não atingiu ouvidos humanos, mas “atingiulhe os ouvidos”.

8 8“A terra se agitou e tremeu”. Glorificado o Filho do homem, os pecadores se agitaram e tremeram. “E os fundamentos das montanhas se abalaram”. A esperança dos soberbos, depositada nos valores mundanos, foi abalada. “E estremeceram, porque o Senhor se irou contra eles”. A esperança em bens temporais já não tivesse solidez nos corações dos homens.

9 9“Fumegou a sua ira”. Subiu lacrimosa a oração dos penitentes, ao conhecerem qual a ameaça de Deus aos ímpios. “Ardeu o fogo de seu rosto”, inflamou-se o fogo da caridade depois da penitência, pelo conhecimento de Deus. “Que acendeu carvões”. Os mortos, que haviam permanecido frios e escurecidos, por falta do fogo dos bons desejos e da luz da justiça, novamente acesos e iluminados, reviveram.

10 10“Inclinou o céu para descer”. Humilhou o justo, para descer à fraqueza dos homens. “Calcando aos pés nuvens escuras”. Os ímpios, amantes das coisas terrenas, não o conheceram devido às trevas de sua malícia. A terra está sob os seus pés, qual escabelo.

11 11“Subiu sobre um querubim e voou”. Foi exaltado acima da plenitude da ciência, e então ninguém chega até ele, a não ser pela caridade. A caridade é a plenitude da lei (Rm 13,10). E logo demonstrou aos que o amam ser ele incompreensível, a fim de que não julgassem compreendê-lo por meio de imaginações corporais. “E voou com as asas do vento”. A rapidez, porém, com que se mostrou ser incompreensível, acha-se acima das potências da alma, asas que os elevam dos temores terrenos às auras da liberdade.

12 12“Das trevas fez um esconderijo”. Criou a obscuridade dos sacramentos e a esperança oculta nos corações dos fiéis, onde ele próprio se escondeu, mas não os abandonou. No meio destas trevas também caminhamos pela fé e não pela visão (2Cor 5,7), enquanto esperamos o que não vemos, e é na perseverança que o aguardamos (Rm 8,25). “E ao redor de si formando o seu tabernáculo”. Os que nele acreditam, tendo se voltado para ele, rodeiam-no. Ele está em seu meio, auxiliando igualmente àqueles nos quais atualmente habita, como num tabernáculo. “Águas tenebrosas nas nuvens do ar”. Ninguém, portanto, que entender bem as Escrituras, pensará já estar na luz que aparecerá quando da fé chegarmos à visão, pois a doutrina dos profetas e de todos os pregadores da palavra divina não é clara.

13 13“Diante do fulgor de sua face”, em comparação com o fulgor que acompanhará sua manifestação. “Suas nuvens passaram”. Os pregadores da palavra de Deus não se limitam à Judeia, mas passaram aos gentios. “Lançando granizo e carvões em brasa”. Em figura, são repreensões que fustigam como granizo os corações endurecidos. Se, porém, uma terra cultivada e fértil, isto é, um ânimo piedoso, os recebe, a dureza do granizo resolve-se em água. O terror de uma repreensão, acompanhada de raios e gelo, converte-se em doutrina nutritiva. Os corações, inflamados pelo fogo da caridade, revivem. Esses benefícios se transferiram para os gentios, levados pelas nuvens do Senhor.

 14 14“E do céu o Senhor trovejou”. O Senhor fez ressoar do coração do justo a audaz confiança evangélica. “E o Altíssimo elevou a voz”, para que a retivéssemos e ouvíssemos coisas celestes nas profundezas das coisas humanas.

15 15“Enviou as suas flechas e dispersou-os”. Enviou os evangelistas que voaram em linha reta, com as asas das virtudes, não por suas próprias forças, mas pelas forças de quem os enviou. E dispersou aqueles em favor dos quais foram enviados, a fim de serem para uns odor que da vida leva à vida, para outros odor que da morte leva à morte (2Cor 2,16). “Multiplicou os raios e apavorou-os. Multiplicou os milagres e os aterrorizou.

16 16“E apareceram as torrentes das águas”. Apareceram as fontes de água a jorrarem para a vida eterna (Jo 4,14), brotadas por meio dos pregadores. “E desvendaram-se os fundamentos do orbe da terra”. Foram revelados os profetas, que não foram entendidos, com os quais se havia de edificar o orbe da terra que crê no Senhor. “Ante as tuas repreensões, ó Senhor”, que clamas: O reino de Deus está próximo” (Lc 10,9). E ao sopro do furacão de tua cólera, pregando: “Se não vos converterdes, perecereis todos de modo semelhante” (ib. 13,5).

17 17“Do alto estendeu a mão e recebeu-me”, chamando-me dentre os gentios para obter a herança, a Igreja gloriosa, sem ruga, nem mancha (Ef 5,27). “Retirou-me da imensidão das águas”, da multidão dos povos.

18 18“Livrou-me de inimigos poderosos”. Libertou-me de inimigos prevalentes, que afligiam e transtornavam minha vida no tempo. “E daqueles que me odiaram quando se tornaram mais fortes do que eu”, por todo o tempo em que lhes estive sujeito, ignorando a Deus.

19 19“Surpreenderam-me no dia da aflição”. Foram os primeiros a me prejudicar, enquanto possuo um corpo mortal e sujeito à tribulação. “Mas o Senhor se fez o meu apoio”. Depois de conturbado e abalado o sustentáculo dos prazeres terrenos pela amargura das misérias, o Senhor se fez o meu apoio.

20 20“Conduziu-me para um lugar espaçoso”. Como eu sofria angústias carnais, levou-me para o espaço espiritual da fé. “Salvou-me porque me quis bem”. Antes que eu o quisesse, “livrou-me de poderosos inimigos”, invejosos por que eu já o amava e daqueles “que me odiavam”, porque eu o amo.

21 21“O Senhor me retribuirá segundo a minha justiça”, a justiça da boa vontade, porque ele me ofereceu a misericórdia antes que eu tivesse a vontade inclinada ao bem. “E segundo a pureza de minhas mãos me recompensará”. Ele me retribuirá de acordo com a pureza de meus atos, tendo-me dado a possibilidade de praticar o bem, e conduzindo-me ao campo espaçoso da fé.

22 22“Porque observei os caminhos do Senhor”. A amplidão das boas obras, provenientes da fé, me consiga também a longaminidade de perseverar.

23 22.23“Não me portei como ímpio diante de Deus, porque ante meus olhos acham-se todos os seus juízos. Todos os seus juízos”, isto é, contemplo instantemente os prêmios dos justos, as penas dos ímpios, os flagelos dos que necessitam de correção, as tentações dos que devem ser provados. “E de mim não afastei as suas justiças”. Assim agem os que desanimam sob o fardo da justiça e são como os cães que voltam ao próprio vômito.

24 24“Estarei sem mácula diante dele e guardar-me-ei da minha iniquidade”.

25 25“O Senhor me retribuirá segundo a minha justiça”. Não só, portanto, devido à intensidade (largura) da fé, que opera pela caridade (Gl 5,6), mas ainda por causa da duração (comprimento) da perseverança, o Senhor me retribuirá segundo a minha justiça. “E conforme a pureza de minhas mãos ante seus olhos”. Não a pureza visível aos homens, mas a que se apresenta aos seus olhos. Pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno (2Cor 4,18). E isto se refere à elevação (altura) da esperança.

26 26“Com o santo serás santo”. Pensamento secreto e profundo este: com o santo serás santo, porque és tu que santificas. “E com o inocente serás incócuo”. A ninguém prejudicas, mas cada um é castigado com o cilício de seus pecados (Pr 5,22).

27 27“Com o eleito serás eleito”. Serás escolhido por aquele a quem escolhes. “E com o perverso serás adverso”. Parecerás errado aos perversos, conforme eles dizem: “O modo de agir do Senhor não é reto” (cf Ez 18,25). Na verdade, o caminho deles é que não é reto.

28 28“Porque salvarás o povo humilde”. Parece errado aos perversos salvares os que confessam os seus pecados. “E humilharás o olhar soberbo”. Humilharás os que desconhecem a justiça de Deus e procuram estabelecer a sua própria (Rm 10,3).

29 29“Senhor, farás brilhar a minha lâmpada”. Não é nossa a luz que irradiamos. És tu, Senhor, que farás resplandecer a minha lâmpada. “Iluminarás, meu Deus, as minhas trevas”. Trevas somos nós, por causa de nossos pecados. Tu, “meu Deus, iluminarás as minhas trevas”.

30 30“Porque me livrarás da tentação”. Ficarei livre da tentação, não por minhas forças, mas por teu auxílio. “E com meu Deus escalarei a muralha”. Não o posso por mim mesmo; com meu Deus escalarei a muralha, que os pecados levantaram entre os homens e a Jerusalém celeste.

31 31“Meu Deus, imaculado é o seu caminho”. O Senhor meu Deus não vem até os homens, a não ser que se limpe o caminho da fé para ele passar, porque seu caminho é imaculado. “As palavras do Senhor são examinadas através do fogo”. As palavras do Senhor são provadas pelo fogo da tribulação. Ele é o protetor de todos os que nele esperam; e todos os que não esperam em si mesmos, mas nele, não são consumidos pela tribulação, pois a esperança segue a medida da fé.

32 32“Pois, quem é Deus a não ser o Senhor?” A ele servimos. “E quem é Deus senão o nosso Deus?” Quem é Deus fora do Senhor, que possuiremos como filhos, qual herança esperada após uma fiel servidão?

33 33“Esse Deus que me cingiu de fortaleza”. Deus me cingiu de fortaleza para que as concavidades escorregadias da cupidez não impeçam minhas obras e meus passos. “E ofereceu-me um caminho sem mácula”. Apresentou-me o caminho imaculado da caridade, por onde vá até ele, assim como é sem mácula a via da fé, pela qual ele vem a mim.

34 34“Deu-me agilidade aos pés como aos dos cervos”. Deu agilidade ao meu amor, dando-lhe meios de transpor os embaraços espinhosos e sombrios deste século. “E nas alturas me firmará”. Fixará minha meta na celeste morada, para ser repleto de toda a plenitude de Deus (Ef 3,19).

35 35“Adestra minhas mãos para a peleja”. Ensina-me a agir e vencer os inimigos, que se empenham por nos interceptar o ingresso aos reinos celestes. “Tornou meus braços semelhantes a um arco de bronze”. Fizeste infatigáveis os meus esforços nas boas obras.

36 36“Deste-me salutar proteção e tua direita me sustentou”. Apoiou-me o favor de tua graça “Teu ensino orientou-me até o fim”. Tua correção, não me deixando desviar, orientou-me, e então dirijo todas as minhas ações àquele fim que me une a ti. “Teu próprio ensinamento me instruirá”. A correção me ensinará como chegar ao porto para onde ele me encaminhou.

37 37“Porque alargaste o caminho sob meus pés”. As angustias carnais não me impedem, porque me ampliaste a caridade, ativa e alegre, mesmo relativamente ao que está abaixo de mim, coisas e membros mortais. “E as minhas pegadas não se apagaram”. Meus passos não se enfraqueceram, nem desapareceram as pegadas que deixei. Assim, meus seguidores podem imitar-me.

38 38“Perseguirei meus inimigos e os alcançarei”. Perseguirei os meus afetos carnais para não ser aprisionado por eles; apanhá-los-ei a fim de exterminá-los. “E não regressarei até que desapareçam”. Não desistirei de tal intento, enquanto não desaparecerem os importunos.

39 39“Esmagá-los-ei e não poderão manter-se de pé”. Não persistirão contra mim. “Cairão debaixo de meus pés”. Uma vez derrubados, farei prevalecerem os objetos de meu amor, que estarão eternamente comigo.

 40 40“Cingiste-me de força para a luta”. Refreaste com a virtude os meus desejos carnais, não me deixando tropeçar na luta. “Abateste sob meus pés os que se levantavam contra mim”. Apanhaste numa armadilha os meus perseguidores. Caíram sob meus pés os que ambicionavam estar acima de mim.

41 41“Puseste meus inimigos atrás de mim”. Fizeste meus inimigos retrocederem e tomarem posição atrás de mim e me seguirem. “E dispersaste os que me odiavam”. Arruinaste os outros inimigos, persistentes no ódio.

42 42“Clamaram e ninguém os salvou”. Quem poderia salvar os que tu não salvas? “Ao Senhor, mas ele não os ouviu”. Não clamaram a qualquer, mas ao senhor: ele, porém, não julgou dignos de serem ouvidos os que não desistiram de sua malícia.

43 43“Hei de reduzi-los como ao pó que o vento leva”. Eu os pulverizarei. São áridos. Rejeitam a chuva da misericórdia de Deus. Orgulhosos, inchados de soberba, serão arrebatados, perdendo sua esperança firme e inabalável, como se fossem arrancados à solidez e estabilidade da terra. “Vou varrê-los como se varre o lodo das praças”. Eu os varrerei dos caminhos largos da perdição, palmilhados por muitos, luxuriosos e lascivos.

44 44“Livrar-me-ás das contradições do povo”. Libertar-me-ás das contradições daqueles que disseram: “Se o deixarmos assim, todos crerão nele” (Jo 11,48).

45 44.45“Tu me constituirás chefe das nações. Um povo que eu não conhecia pôs-se a meu serviço”. Serviu-me o povo dos gentios, que não recebeu minha presença corporal. “Logo que ouviu, obedeceu-me”. Não me viu com os próprios olhos, mas acolhendo meus pregadores, obedeceu-me logo que ouviu.

46 46“Mentiram-me os filhos dos estrangeiros”. Mentiram-me, não meus filhos, mas filhos de estrangeiros, aos quais foi dito com razão: “Vós sois do diabo, vosso pai” (Jo 8,44). “Os filhos dos estrangeiros envelheceram”. Trouxe-lhes o Novo Testamento para se renovarem, mas permaneceram unidos ao homem velho. “E claudicaram em seus caminhos”. Mancos, porque retiveram o Antigo Testamento e rejeitaram o Novo. Ficaram claudicantes. Mesmo na Antiga Lei, seguiam antes suas próprias tradições do que a lei de Deus. Questionavam acerca de abluções das mãos (Mt 15,2). Abriam para si caminhos, de terra batida, e desviam-se das vias dos preceitos de Deus.

47 47“Viva o Senhor, bendito o meu Deus”. O desejo da carne é morte (Rm 8,6). O Senhor, porém, vive e é bendito o meu Deus. “Exaltado seja o Deus de minha salvação”. Não conceba o Deus de minha salvação à maneira terrena; nem espere salvação na terra, e sim no alto a salvação que dele procede.

48 48“Esse Deus que me proporciona vingança e sujeita-me os povos”. Deus que me vingas, submetendo-me os povos. “Meu libertador de inimigos iracundos”, os judeus que clamavam: “Crucifica-o, crucifica-o” (Jo 19,6).

49 49 “Tu me elevarás acima dos que se insurgem contra mim”, os judeus que se ergueram contra mim na paixão. Tu me exaltarás, em minha ressurreição. “Livrar-me-ás do homem iníquo”. Libertar-me-ás de seu domínio iníquo.

50 50“Por isso louvar-te-ei entre as nações, Senhor”. Por mim, as nações te louvarão, Senhor. “E cantarei salmos a teu nome”. Minhas obras mais amplamente te fará conhecido.

51 51“Fazes magnífica a salvação do próprio rei”. Deus engrandece, tornando admirável a salvação concedida aos fiéis por seu filho. “Tratas misericordiosamente o teu ungido”. Deus é misericórdioso para com seu ungido, “Davi, e a sua posteridade para sempre”. Misericordioso para com o próprio libertador, dotado de mão poderosa, vencedor do mundo e para com os que ele gerou para sempre, pela fé no Evangelho. Todas as expressões deste salmo, não aplicáveis ao próprio Senhor, isto é, à Cabeça da Igreja, sejam relacionadas à Igreja. Fala nele o Cristo total, no qual estão incluídos todos os seus membros.

Extraído do Comentário aos Salmos (Enarrationes in psalmos), de Santo Agostinho, vol.1.


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