Subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai

Francisco, papa*

No Credo, encontramos a afirmação que Jesus «subiu ao Céu, está sentado à direita do Pai». A vida terrena de Jesus culmina com o evento da Ascensão, ou seja, quando Ele passa deste mundo para o Pai e é elevado à sua direita. Qual é o significado deste acontecimento? Quais são as suas consequências para a nossa vida? O que significa contemplar Jesus sentado à direita do Pai? Nisto, deixemo-nos guiar pelo evangelista Lucas.

Comecemos pelo momento em que Jesus decide empreender a sua última peregrinação a Jerusalém. São Lucas observa: «Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, Ele resolveu dirigir-se a Jerusalém» (Lc 9, 51). Enquanto «ascende» à Cidade santa, onde se realizará o seu «êxodo» desta vida, Jesus já vê a meta, o Céu, mas sabe bem que o caminho que o leva à glória do Pai passa pela Cruz, através da obediência ao desígnio divino de amor pela humanidade. O Catecismo da Igreja Católica afirma que «a elevação na cruz significa e anuncia a elevação da ascensão aos céus» (n. 662). Também nós devemos ver claramente na nossa vida cristã, que a entrada na glória de Deus exige a fidelidade diária à sua vontade, mesmo quando requer sacrifício e às vezes exige que mudemos os nossos programas. A Ascensão de Jesus verifica-se concretamente no monte das Oliveiras, perto do lugar para onde se tinha retirado em oração antes da paixão, para permanecer em profunda união com o Pai: mais uma vez, vemos que a oração nos concede a graça de viver fiéis ao desígnio de Deus.

No final do seu Evangelho, são Lucas narra o evento da Ascensão de modo muito sintético. Jesus conduziu os discípulos «para Betânia e, levantando as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado para o céu. Depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo. E permaneciam no templo, louvando e bendizendo a Deus» (24, 50-53); assim diz são Lucas. Gostaria de observar dois elementos desta narração. Antes de tudo, durante a Ascensão, Jesus realiza o gesto sacerdotal da bênção e sem dúvida os discípulos manifestam a sua fé com a prostração, ajoelham-se inclinando a cabeça. Este é o primeiro ponto importante: Jesus é o único e eterno Sacerdote que, com a sua paixão, atravessou a morte e o sepulcro, ressuscitou e subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai, de onde intercede para sempre a nosso favor (cf. Hb 9, 24). Como afirma são João, na sua primeira Carta, Ele é o nosso advogado: como é bom ouvir isto! Quando alguém é convocado pelo juiz ou tem uma causa, a primeira coisa que faz é procurar um advogado para que o defenda. Nós temos um, que nos defende sempre, defende-nos das insídias do diabo, defende-nos de nós mesmos e dos nossos pecados! Caríssimos irmãos e irmãs, temos este advogado: não tenhamos medo de o procurar para pedir perdão, para pedir a bênção, para pedir misericórdia! Ele perdoa-nos sempre, é o nosso advogado: defende-nos sempre! Não esqueçais isto! Assim, a Ascensão de Jesus ao Céu leva-nos a conhecer esta realidade tão consoladora para o nosso caminho: em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a nossa humanidade foi levada para junto de Deus; Ele abriu-nos a passagem; Ele é como um chefe de grupo, quando se escala uma montanha, que chega ao cimo e nos puxa para junto de si, conduzindo-nos para Deus. Se lhe confiarmos a nossa vida, se nos deixarmos guiar por Ele, temos a certeza de estar em mãos seguras, nas mãos do nosso Salvador, do nosso advogado.

Um segundo elemento: são Lucas afirma que os Apóstolos, depois de terem visto Jesus subir ao Céu, voltaram para Jerusalém «com grande júbilo». Isto parece-nos um pouco estranho. Em geral, quando estamos separados dos nossos familiares, dos nossos amigos, devido a uma partida definitiva e sobretudo por causa da morte, apodera-se de nós uma tristeza natural, porque já não veremos o seu rosto, nem ouviremos a sua voz, já não poderemos beneficiar do seu carinho, da sua presença. Ao contrário, o evangelista sublinha a profunda alegria dos Apóstolos. Mas por quê? Precisamente porque, com o olhar da fé, eles compreendem que, não obstante tenha sido subtraído aos seus olhos, Jesus permanece para sempre com eles, não os abandona e, na glória do Pai, sustém-nos, orienta-os e intercede por eles.

São Lucas descreve o acontecimento da Ascensão também no início dos Actos dos Apóstolos, para frisar que tal evento é como o elo que une e liga a vida terrena de Jesus à vida da Igreja. Aqui são Lucas refere-se também à nuvem que subtrai Jesus à vista dos discípulos, os quais permanecem a contemplar Cristo que sobe para junto de Deus (cf. Act 1, 9-10). Então intervêm dois homens em vestes brancas que os convidam a não permanecer imóveis a contemplar o céu, mas a alimentar a sua vida e o seu testemunho com a certeza de que Jesus voltará do mesmo modo como o viram subir ao céu (cf. Act 1, 10-11). É precisamente o convite a começar a partir da contemplação do Senhorio de Cristo, a fim de receber dele a força para anunciar e testemunhar o Evangelho na vida de todos os dias: contemplar e agir, ora et labora, ensina são Bento, são ambos necessários na nossa vida de cristãos.

Caros irmãos e irmãs, a Ascensão não indica a ausência de Jesus, mas diz-nos que Ele está vivo no meio de nós de modo novo; já não se encontra num lugar específico do mundo, como era antes da Ascensão; agora está no Senhorio de Deus, presente em cada espaço e tempo, próximo de cada um de nós. Na nossa vida nunca estamos sozinhos: temos este advogado que nos espera e nos defende. Nunca estamos sozinhos: o Senhor crucificado e ressuscitado orienta-nos; juntamente connosco existem muitos irmãos e irmãs que, no silêncio e no escondimento, na sua vida de família e de trabalho, nos seus problemas e dificuldades, nas suas alegrias e esperanças, vivem todos os dias a fé e, juntamente connosco, anunciam ao mundo o Senhorio do amor de Deus, em Jesus Cristo ressuscitado que subiu ao Céu, nosso advogado. Obrigado!

*Audiência Geral de 17 de abril de 2013, publicado originalmente em http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2013/documents/papa-francesco_20130417_udienza-generale.html


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