O Invitatório

O ciclo diário da Oração da Igreja, essa maravilhosa experiência pascal cotidiana,  começa pelo Invitatório.

A palavra que deu origem a esse nome veio do latim “invitare”. Em português INVITAR, que significa requisitar a presença, o comparecimento de alguém; convidar ou convocar.

Mais uma vez remetemos ao costume das liturgias judaicas de convocar o povo para a oração, através de versos invitatórios. Diversos salmos começam com esse tipo de verso.

Para quem não sabe, as nossas orações eucarísticas também começam com o chamado Diálogo Invitatório.

Portanto, o invitatório é o convite inicial para toda a oração que irá se desenrolar no decorrer do dia. É o toque de despertar do coração para entrar na presença do Deus vivo.

O Invitatório designa a abertura da porta da nossa alma para os louvores de nosso Deus. É o convite diário para a oração contínua. Toda vez que rezamos o Invitatório é como se estivéssemos abrindo as portas do templo dos nossos corações e deixando que a presença do Deus onipotente o preencha pela disposição de louvá-lo durante todo o dia. O Invitatório também é um convite para escutar a voz do Senhor durante o dia, sem endurecer o coração, no “hoje” que nos foi dado.

O Invitatório é formado de um versículo introdutório, de uma antífona responsorial e do Salmo 94(95), que pode ser substituído pelos Salmos 23(24), 66(67) ou 99(100).

A ser proclamado o versículo introdutório “Abri os meus lábios, ó Senhor”, traçamos o sinal da cruz sobre os lábios, em seguida todos os presentes respondem E minha boca anunciará vosso louvor. Esse texto é retirado do versículo 17 do Salmo 50(51). Ele nos ensina que toda a nossa oração desde o simples abrir dos lábios, depende de Deus

Em seguida é dita ou cantada a antífona que é própria de cada tempo ou de cada festa. A antífona é de cada estrofe do Salmo. As antífonas servem exatamente para situar e conectar a recitação do Salmo no sentido mais próximo do tempo ou do santo que está sendo celebrado.

O Invitatório deve ser rezado antes da primeira oração do dia, que pode ser o Ofício das Leituras ou as Laudes. Sendo rezado antes das Laudes, o salmo com sua antífofna é facultativo, contudo é altamente recomendável, pela sua riqueza de significado para a oração diária. O Invitatório suprime o intróito de de qualquer uma das horas que preceder.  Neste caso, se rezamos o invitatório, pulamos o VINDE, Ó DEUS, EM MEU AUXÍLIO e vamos direto para o Hino.

Como toda a Liturgia das Horas, o Invitatório, em regra, deve ser cantado, mas permite-se que seja recitado, especialmente na celebração individual. O canto gregoriano é o mais indicado para o canto dos Salmos na Liturgia das Horas.

Salmo 94(95)

A primeira parte do Salmo 94(95) é o “invitatório” propriamente dito, onde o salmista convida o povo a manifestar a alegria de ir ao encontro do Senhor, caminhando até ele com cantos de alegria e louvores:

1Vinde, exultemos de alegria no Senhor, *
aclamemos o Rochedo que nos salva!
2 Ao seu encontro caminhemos com louvores, *
e com cantos de alegria o celebremos!

A segunda e terceira estrofes são versos que expressam adoração que, segundo o Catecismo, é o reconhecimento da pequenez da criatura diante da grandeza do seu criador (Cf. CIC …). Desse modo, o salmista fala da onipotência de Deus, que tem na mão, desde as profundezas dos abismos até as alturas das montanhas, o mar e a terra firme. É um convite à confiança no Deus dos deuses. Em seguida, convida a prostrar-se diante do supremo pastor, e adorá-lo, como felizes ovelhas conduzidas por sua mão:

3 Na verdade, o Senhor é o grande Deus, *
o grande Rei, muito maior que os deuses todos.
4 Tem nas mãos as profundezas dos abismos, *
e as alturas das montanhas lhe pertencem;
5 o mar é dele, pois foi ele quem o fez, *
e a terra firme suas mãos a modelaram.

6 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, *
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
=7 Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, †
e nós somos o seu povo e seu rebanho, *
as ovelhas que conduz com sua mão.

As duas últimas estrofes trazem uma forte exortação e uma dura advertência: quem dera (oxalá), hoje, ouçamos a voz do pastor e não fechemos o coração, para que não nos tornemos como o povo empedernido no deserto, que não entrou na terra prometida, o esperado lugar do repouso, que para nós é o fruto da nossa oração.

Na carta aos Hebreus, São Paulo ressalta o sentido profundo da palavra “hoje” expressa no Salmo 94(95), a significar um tempo de graça que nos é dado, em grego chamado (kairós). Por isso, o invitatório abre o kairós de cada dia, a experiência pascal que constitui o ciclo da oração cotidiana:

=8 Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: †
“Não fecheis os corações como em Meriba, *
9 como em Massa, no deserto, aquele dia,
– em que outrora vossos pais me provocaram, *
apesar de terem visto as minhas obras”.

=10Quarenta anos desgostou-me aquela raça †
e eu disse: “Eis um povo transviado, *
11seu coração não conheceu os meus caminhos!”
– E por isso lhes jurei na minha ira: *
“Não entrarão no meu repouso prometido!”

Como todo Salmo na Liturgia das Horas, o Invitatório encerra com a doxologia “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém.”

A palavra “doxologia” vem do grego δόξα [doxa] “glória” + -λογία [-logia], “palavra”), em resumo significa “palavras de glorificação”. É um arremate utilizado amplamente nos textos litúrgicos como o Pai Nosso, hinos, etc. O “Glória ao Pai” é o mais conhecido dos vários tipos doxologias em uso na Igreja.

A Instrução Geral da Liturgia das Horas diz que o “Glória ao Pai” dá à oração do Antigo Testamento um sentido laudativo, cristológico e trinitário.

O “Glória ao Pai” é cantado ou recitado seguindo a mesma melodia e ritmo que foi usado para cantar o Salmo 94(95):

(Recitado): – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

(Cantado): Demos glória a Deus Pai onipotente
e a seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso, †
e ao Espírito que habita em nosso peito *
pelos séculos dos séculos. Amém.

Salmo 23(24)

O Salmo 23(24) traz na sua primeira estrofe os versos de adoração a Deus, a quem  toda a terra e os seus seres pertencem. São versos de confiança no Senhor que mantém a terra inabalável sobre as águas:

1 Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra, *
o mundo inteiro com os seres que o povoam;
2 porque ele a tornou firme sobre os mares, *
e sobre as águas a mantém inabalável.

A segunda e a terceira estrofes trazem a exortação. O Salmista pergunta: quem seria digno de subir à presença do Senhor e lá permanecer? O verso seguinte responde como na bem-aventurança: os puros. Estes verão a Deus (Cf. Mt 5, 8). Com isso nos exorta a buscar a pureza e a inocência do coração e dos lábios, para podermos subir ao monte da oração, onde aquele a quem buscamos está em sua plenitude.

O Salmo continua a bendição ao justo, que busca constantemente a face de Deus e sobre o qual descem a bênção e a recompensa do Senhor:

3 “Quem subirá até o monte do Senhor, *
quem ficará em sua santa habitação?”
=4 “Quem tem mãos puras e inocente coração, †
quem não dirige sua mente para o crime, *
nem jura falso para o dano de seu próximo.

5 Sobre este desce a bênção do Senhor *
e a recompensa de seu Deus e Salvador”.
6 “É assim a geração dos que o procuram, *
e do Deus de Israel buscam a face”.

As estrofes seguintes são uma exaltação a Deus que adentra o Templo, representado pela Arca da Aliança, que é trazida para repousar no Santuário. As portas do Templo podem ser traduzidas para nós como portas da alma ou do coração que são convocadas solenemente para se abrirem, a fim de que o Rei da Glória, o Senhor, o valoroso, o onipotente Deus do universo possa entrar e permanecer:

=7 “Ó portas, levantai vossos frontões! †
Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, *
a fim de que o Rei da glória possa entrar!”

=8 Dizei-nos: “Quem é este Rei da glória?” †
“É o Senhor, o valoroso, o onipotente, *
o Senhor, o poderoso nas batalhas!”

=9 “Ó portas, levantai vossos frontões! †
Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, *
a fim de que o Rei da glória possa entrar!”

=10 Dizei-nos: “Quem é este Rei da glória?” †
“O Rei da glória é o Senhor onipotente, *
o Rei da glória é o Senhor Deus do universo!”

O Salmo 23(24) se conclui como “Glória ao Pai” usando a mesma fórmula do Salmo 94(95).

Salmo 66(67)

O Salmo 66(67) é um belíssimo cântico de ação de graças, no qual o salmista reconhece a justiça o os favores de Deus, ao mesmo tempo que pede suas bênçãos. O Salmo tem uma espécie de refrão que bendiz a Deus, desejando-lhe o louvor de todas as nações:

2 Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção, *
e sua face resplandeça sobre nós!
3 Que na terra se conheça o seu caminho *
e a sua salvação por entre os povos.

4 Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, *
que todas as nações vos glorifiquem!

5 Exulte de alegria a terra inteira, *
pois julgais o universo com justiça;
– os povos governais com retidão, *
e guiais, em toda a terra, as nações.

6 Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, *
que todas as nações vos glorifiquem!

7 A terra produziu sua colheita: *
o Senhor e nosso Deus nos abençoa.
8 Que o Senhor e nosso Deus nos abençoe, *
e o respeitem os confins de toda terra!

O “Glória ao Pai” final deste Salmo é idêntico aos salmos anteriores.

Salmo 99(100)

O Salmo 99(100) o que mais se aproxima da estrutura do salmo 94(95) e do sentido do Invitatório.

A primeira estrofe nos apresenta o convite para ir ao encontro do Senhor para aclamá-lo e servi-lo com alegria:

=2 Aclamai o Senhor, ó terra inteira, †
servi ao Senhor com alegria, *
ide a ele cantando jubilosos!

A segunda estrofe encontramos os versos de adoração, que reconhecem que ele é o único Deus. Também como no Salmo 94(95), o salmista nos lembra que somos obra da criação de Deus e que fazemos parte do rebanho do qual ele é o pastor:

=3 Sabei que o Senhor, só ele, é Deus †
Ele mesmo nos fez, e somos seus, *
nós somos seu povo e seu rebanho.

Na terceira estrofe do Salmo 99(100) temos um novo convite para entrar nos átrios da oração com ações de graças e louvores:

=4 Entrai por suas portas dando graças, †
e em seus átrios com hinos de louvor, *
dai-lhe graças, seu nome bendizei!

A quarta estrofe é também uma advertência que lembra da bondade e a fidelidade do Senhor que dura para sempre:

=5 Sim, é bom o Senhor e nosso Deus, †
sua bondade perdura para sempre, *
seu amor é fiel eternamente!

Como o Salmo 99(100) tem três versos, a sua doxologia cantada pode ser esta:

= Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, †
ao Deus que é, que era e que vem, *
pelos séculos dos séculos. Amém.


Comments

6 respostas para “O Invitatório”

  1. Excelente, este introido

  2. Máximo, máximo!

  3. Maravilhosa, explicação. Obrigada!

  4. Avatar de Maria José Guimarães
    Maria José Guimarães

    Gostei da explicação mas fiquei com essa dúvida: A oração “Abri, Senhor, os meus lábios para bendizer….” Substitui o Invitatório?
    Nós Leigos precisamos rezar o Invitatório?

    1. Olá,
      O Invitatório abre os Ofícios do dia. Os leigos também precisam rezá-lo. Mas só é preciso rezar o Salmo e a antífona se for antes do Ofício das Leituras. Se rezar antes das Laudes o Salmo e a antífona é facultativo. O Versículo do Invitatório é: “Abri os meus lábios, ó Senhor! E minha boca anunciará vosso louvor”. A oração que você citou (Abri, Senhor, os meus lábios para bendizer o vosso santo nome. Purificai o meu coração de todos os pensamentos vãos…) não está nos livros oficiais e não substitui o Invitatório.

  5. Avatar de Giovanni Costa
    Giovanni Costa

    O invitatório do ofício rezado após a santa missa seria obrigatário, ja que a missa se inicia com um convite de louvor

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