Ofício das Leituras da Memória de São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja


V. Vinde, ó Deus, em meu aulio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Esrito Santo. *
Como era no prinpio, agora e sempre. Amém. Aleluia.

Eterno Sol, que envolveis
a criação de esplendor,
a vós, Luz pura das mentes,
dos corações o louvor.

Pelo poder do Espírito,
lâmpadas vivas brilharam.
Da salvação os caminhos
a todo o mundo apontaram.

Por estes servos da graça
fulgiu com novo esplendor
o que a palavra proclama
e que a razão demonstrou.

Tem parte em suas coroas,
pela doutrina mais pura,
este varão que louvamos
e como estrela fulgura.

Por seu auxílio pedimos:
dai-nos, ó Deus, caminhar
na direção da verdade
e assim a vós alcançar.

Ouvi-nos, Pai piedoso,
e vós, ó Filho, também,
com o Espírito Santo,
Rei para sempre. Amém.

Salmodia

Ant. 1 Estou cansado de gritar e de esperar pelo meu Deus.

Salmo 68(69), 2-22.30-37

O zelo pela vossa casa me devora

Deram vinho misturado com fel para Jesus beber (Mt 27,34).

I

2 Salvai-me, ó meu Deus, porque as águas *
a o meu pescoço já chegaram!
3 Na lama do abismo eu me afundo *
e não encontro um apoio para os pés.
– Nestas águas muito fundas vim cair, *
e as ondas já começam a cobrir-me!

4 À força de gritar, estou cansado; *
minha garganta já ficou enrouquecida.
– Os meus olhos já perderam sua luz, *
de tanto esperar pelo meu Deus!

5 Mais numerosos que os cabelos da cabeça, *
são aqueles que me odeiam sem motivo;
– meus inimigos são mais fortes do que eu; *
contra mim eles se voltam com mentiras!

– Por acaso poderei restituir *
alguma coisa que de outros não roubei?
6 Ó Senhor, vós conheceis minhas loucuras, *
e minha falta não se esconde a vossos olhos.

7 Por minha causa não deixeis desiludidos *
os que esperam sempre em vós, Deus do universo!
– Que eu não seja a decepção e a vergonha *
dos que vos buscam, Senhor Deus de Israel!

8 Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
9 eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.

10 Pois meu zelo e meu amor por vossa casa *
me devoram como fogo abrasador;
– e os insultos de infiéis que vos ultrajam *
recaíram todos eles sobre mim!

11 Se aflijo a minha alma com jejuns, *
fazem disso uma razão para insultar-me;
12 se me visto com sinais de penitência, *
eles fazem zombaria e me escarnecem!
13 Falam de mim os que se assentam junto às portas, *
sou motivo de canções, até de bêbados!

Ant. Estou cansado de gritar e de esperar pelo meu Deus.

Ant. 2 Deram-me fel como se fosse um alimento,
em minha sede ofereceram-me vinagre.

II

14 Por isso elevo para vós minha oração, *
neste tempo favorável, Senhor Deus!
– Respondei-me pelo vosso imenso amor, *
pela vossa salvação que nunca falha!

=15 Retirai-me deste lodo, pois me afundo! †
Libertai-me, ó Senhor, dos que me odeiam, *
e salvai-me destas águas tão profundas!
=16 Que as águas turbulentas não me arrastem, †
não me devorem violentos turbilhões, *
nem a cova feche a boca sobre mim!

17 Senhor, ouvi-me, pois suave é vossa graça, *
ponde os olhos sobre mim com grande amor!
18 Não oculteis a vossa face ao vosso servo! *
Como eu sofro! Respondei-me bem depressa!
19 Aproximai-vos de minh’alma e libertai-me, *
apesar da multidão dos inimigos!

=20 Vós conheceis minha vergonha e meu opróbrio, †
minhas inrias, minha grande humilhação; *
os que me afligem estão todos ante vós!
21 O insulto me partiu o coração; *
não suportei, desfaleci de tanta dor!

= Eu esperei que alguém de mim tivesse pena, †
mas foi em vão, pois a ninguém pude encontrar; *
procurei quem me aliviasse e não achei!
22 Deram-me fel como se fosse um alimento, *
em minha sede ofereceram-me vinagre!

Ant. Deram-me fel como se fosse um alimento,
em minha sede ofereceram-me vinagre.

Ant. 3 Procurai o Senhor continuamente,
e o vosso coração revive.

III

30 Pobre de mim, sou infeliz e sofredor! *
Que vosso aulio me levante, Senhor Deus!
31 Cantando eu louvarei o vosso nome *
e agradecido exultarei de alegria!
32 Isto se mais agradável ao Senhor, *
que o sacricio de novilhos e de touros.

=33 Humildes, vede isto e alegrai-vos: †
vosso coração reviverá, *
se procurardes o Senhor continuamente!

34 Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, *
e não despreza o clamor de seus cativos.
35 Que céus e terra glorifiquem o Senhor *
com o mar e todo ser que neles vive!

=36 Sim, Deus vi e salvará Jerusalém, †
reconstruindo as cidades de Judá, *
onde os pobres morarão, sendo seus donos.
=37 A descendência de seus servos há de herdá-las, †
e os que amam o santo nome do Senhor *
dentro delas fixarão sua morada!

Ant. Procurai o Senhor continuamente,
e o vosso coração revive.

V. O Senhor há de ensinar-nos seus caminhos.
R. E trilharemos, todos nós, suas veredas.

Primeira leitura

Do Livro das Lamentações             3,1-33

Lamentação e esperança 

1 Sou um homem que vejo a minha miséria,
como punição da ira de Deus.
2 Ele me levou a caminhar
nas trevas, e não na luz.
3 Somente contra mim
não cessa de levantar a mão
o dia inteiro.
4 Destruiu minha pele e minha carne,
quebrou os meus ossos.
5 Ocupou minha vizinhança
e rodeou-me de fel e de aflição.
6 Fez-me habitar na escuridão,
como fez aos que estão mortos para sempre.
7 Cercou-me de muros para eu não escapar,
reforçou minhas algemas.
8 Mesmo que eu clame e rogue,
ele rejeita minha oração.
 Fechou meu caminho com pedras,
obstruiu minha passagem.
10 Tornou-se para mim um urso de tocaia,
um leão escondido.
11 Obstruiu, sim, meu caminho e me abateu,
deixou-me arrasado.
12 Retesou o arco e me pôs
como alvo de suas flechas.
13 Cravou-me nos rins
as flechas de sua aljava.
14 Tornei-me o gracejo de todo o povo,
sua cantiga de todo dia.
15 Encheu-me de amargura,
embriagou-me com absinto.
16 Quebrou-me os dentes com cascalho,
cobriu-me de cinza.
17 Minha vida distanciou-se da paz,
estou esquecido de seus bens.
18 Disse para mim mesmo:
“Acabou-se o meu vigor,
minha esperança ausentou-se do Senhor”.
19 Lembra-te de minha miséria e de meus extravios,
amargos como fel e absinto.
20 Remorde-me a memória,
vai-se consumindo a minh’alma.
21 Revolverei essas coisas no espírito,
por isso continuo esperando.
22 É pela bondade do Senhor que não fomos destruídos,
não se esgotou a sua misericórdia;
23 cada manhã ela se renova;
grande é tua fidelidade, Senhor.
24 Diz minh’alma: “O Senhor é minha herança,
por isso, espero por ele”.
25 O Senhor é bondoso para quem nele confia,
para a alma que o procura.
26 É bom aguardar em silêncio
a salvação que vem de Deus.
27 É bom para o homem sofrer o jugo
na sua mocidade.
28 Quando isto lhe é imposto,
queda-se em solidão e em silêncio.
29 Deita-se com o rosto no chão,
implorando a esperança.
30 Oferece o rosto a quem o espanca,
sacia-se de opróbrios.
31 É certo que o Senhor a ninguém
repele para sempre.
32 Se ele aflige, também se compadece
com infinitos gestos de misericórdia.
33Humilhar e afligir os homens
não procede do seu coração.

Responsório             Lm 3,52.54b.56a.57b.58; At 21,13b

R. Os que são meus inimigos me prenderam sem motivo;
e eu disse a mim mesmo: Estou perdido, ó Senhor!
Mas ouvistes minha voz
* E dissestes: Não receies!
Defendestes minha causa, Redentor da minha vida.
V. Estou pronto não apenas para ser encarcerado,
mas também para morrer pelo nome de Jesus.
* E dissestes.
V. Deus submeteu os homens todos ao pecado,
para mostrar misericórdia a todos eles. * Pois todos.

Segunda leitura

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo

(Ante exsilium, nn. 1-3: PG 52,427*-430)                           (Séc. IV)

Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro

Sobrevêm muitas ondas e fortes tempestades, mas não tememos afogar, pois estamos firmados sobre a pedra. Enfureça-se o mar, não tem forças para destruir a pedra. Ergam-se as vagas, não podem submergir o navio de Cristo. Pergunto eu: que temeremos? A morte? Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro (Fl 1,21). O exílio talvez, dizes-me? Do Senhor é a terra e tudo quanto contém (Sl 23,1). A confiscação dos bens? Nada trouxemos para o mundo e, é certo, nada daqui poderemos levar (1Tm6,7); os pavores deste mundo são desprezíveis, e seus bens, merecedores de riso. Não tenho medo da pobreza, não ambiciono riquezas; não temo a morte, nem prefiro viver a não ser para vosso proveito. Por isto recordo os acontecimentos atuais e rogo à vossa caridade que tenhais confiança. 

Não escutas o Senhor dizer: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei ali no meio deles? (Mt 18,20). E onde há tanta gente ligada pelos laços da caridade, não estará ele presente? Tenho seu penhor. Será que confio em minhas próprias forças? Seguro seu testamento. Este é o meu bordão, a minha segurança, o meu porto tranquilo. Abale-se embora o universo, tenho sua resposta, leio os seus escritos: aí está a muralha para mim, a fortaleza. Que escritos? Eu estou convosco todos os dias até a consumação do mundo (Mt 28,20). 

Cristo está comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas, os mares, o furor dos príncipes se agitem contra mim, tudo isto não me impressiona mais do que uma aranha. E se vossa caridade não me retivesse, não recusaria partir ainda hoje mesmo para outro lugar. Repito sempre: Senhor, faça-se a tua vontade (Mt 26,42); não o que quer este ou aquele, mas o que tu queres. Esta é a minha torre, minha pedra imóvel; este, o meu báculo firme. Se Deus quer isto, faça-se. Se quiser que permaneça aqui, agradecerei. Onde quer que me queira, darei graças.  

E onde estou eu, aí estais vós; onde estais, aí eu também: somos um só corpo e não se separa o corpo da cabeça nem a cabeça do corpo. Estamos em lugares distantes, mas unidos na caridade, que nem a morte poderá separar. Porque, embora morra meu corpo, viverá a alma que se lembrará do povo. 

Vós sois meus cidadãos, vós, meus pais, vós, meus irmãos, vós, filhos, vós, membros, vós, corpo. Para mim sois a luz, ou melhor, mais deliciosos que esta luz. O que poderá enviar-me um raio igual à vossa caridade? O raio de sol para mim é vida, porém vossa caridade tece-me a coroa para o futuro.

Responsório             2Tm 2,9-10a; Sl 26(27),1a

R. Pelo Evangelho estou sofrendo até algemas
como se eu fosse malfeitor;
contudo, a palavra do Senhor não se deixa algemar;
* Este é o motivo por que eu suporto tudo,
por causa dos eleitos.
V. O Senhor é minha luz e salvação;
de quem eu terei medo?
* Este é.

Oração

Ó Deus, força dos que em vós esperam, que fizestes brilhar na vossa Igreja o bispo São João Crisóstomo por admirável eloquência e grande coragem nas provações, dai-nos seguir os seus ensinamentos, e robustecer-nos com sua invencível fortaleza. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.


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