Chegado o dia aprazado, Gabriel chega à porta, aproxima-se como o murmúrio da brisa suave que escutou o profeta na fenda do Horeb. Soprou o vento. O vento de Pentecostes, trinta e poucos anos adiantado. Diante da porta, Gabriel cantou. Era a porta do céu. A porta estava em Nazaré da Galiléia. O nome da porta era Maria. A porta do céu para a humanidade.

Diz o Senhor: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”. Essa casa são os homens. Pela porta aberta, o Senhor entrou em nossa tenda e pôs a refeição. Felizes são os convidados!
Voltemos ao anjo. Ele cantou: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Não com alguma melodia que já tenhamos ouvido, mas a mais bela das melodias do céu.
Ora, onde aprendera, Gabriel, tão profundo cantar?
Da sala do trono de Deus, onde cantas sem cessar?
Ele mesmo, o Pai de todas as luzes te mandou dizer. Ele mesmo, o artífice de toda a criação cantou nos teus lábios. Ave, Kekaritomene!
A Virgem sempre atenta escutou. Nenhuma novidade, pois sempre escutava. Mas ficou intrigada, pois jamais escutara tal canto dentre os milhares de cantos do céu que ouvira. Aquele era um canto novo. O canto da nova criação composto pelo mesmo Deus que no princípio criou o mundo pela voz de seu Verbo e pelo Espírito Santo que pairava sobre a face das águas. Deus iniciou a criação do homem dizendo: “FAÇAMOS o homem à nossa imagem e semelhança”. Que inominável acontecimento! a pequena Virgem, a pequena porta entre a terra e o céu, ela que conclui o canto celeste iniciado por Gabriel. Ela que conclui o canto da criação do homem dizendo: “FAÇA-SE em mim segundo a tua palavra!”
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