Ofício das Leituras

Nasceu na Panônia cerca do ano 316, de pais pagãos. Depois de receber o batismo e de renunciar à carreira militar, fundou um mosteiro em Ligugé (França), onde levou vida monástica sob a direção de Santo Hilário. Foi depois ordenado sacerdote e, mais tarde, eleito bispo de Tours. Foi modelo insigne de bom pastor. Fundou outros mosteiros, dedicou-se à formação do clero e à evangelização dos pobres. Morreu no ano 397.

Hino

Ao fiel confessor do Senhor
canta a terra com grande alegria.
Mereceu penetrar, glorioso,
nas alturas do céu, neste dia.

Piedoso, prudente e humilde,
casto e sóbrio, constante na paz,
foi até o momento supremo,
que do corpo a morada desfaz.

Vão, por isso, ao sepulcro do santo
implorar a saúde os doentes
e, invocando o Senhor em seu nome,
são curados e voltam contentes.

Nós, agora, cantamos um hino
ao seu nome, em alegre coral.
Seu convívio possamos um dia
partilhar no festim eternal.

Salvação e poder à Trindade
que as alturas celestes habita,
e governa e dirige este mundo
com ciência e bondade infinita.

Salmodia

Ant. 1 Ó meu Deus, escutai minha prece,
ao clamor do inimigo estremeço!

Salmo 54(55),2-15.17-24

Oração depois da traição de um amigo

Jesus começou a sentir medo e angústia (Mc 14,33)

I

2 Ó meu Deus, escutai minha prece, *
não fujais desta minha oração!
3 Dignai-vos me ouvir, respondei-me: *
a angústia me faz delirar!

4 Ao clamor do inimigo estremeço, *
e ao grito dos ímpios eu tremo.
– Sobre mim muitos males derramam, *
contra mim furiosos investem.

5 Meu coração dentro em mim se angustia, *
e os terrores da morte me abatem;
6 o temor e o tremor me penetram, *
o pavor me envolve e deprime!

=7 É por isso que eu digo na angústia: †
Quem me dera ter asas de pomba *
e voar para achar um descanso!
8 Fugiria, então, para longe, *
e me iria esconder no deserto.

Ant. Ó meu Deus, escutai minha prece,
ao clamor do inimigo estremeço!

Ant. 2 O Senhor have de libertar-nos
da mão do inimigo traiçoeiro.

II

– 9 Acharia depressa um regio *
contra o vento, a procela, o tufão.
=10 Ó Senhor, confundi as más línguas; †
dispersai-as, porque na cidade *
só se  violência e discórdia!

=11 Dia e noite circundam seus muros, †
12 dentro dela há maldades e crimes, *
a injustiça, a opressão moram nela!
– Violência, imposturas e fraudes *
já não deixam suas ruas e praças.

13 Se o inimigo viesse insultar-me, *
poderia aceitar certamente;
– se contra mim investisse o inimigo, *
poderia, talvez, esconder-me.

14 Mas és tu, companheiro e amigo, *
tu, meu íntimo e meu familiar,
15 com quem tive agradável convívio *
com o povo, indo à casa de Deus!

Ant. O Senhor have de libertar-nos
da mão do inimigo traiçoeiro.

Ant. 3 Lança sobre o Senhor teus cuidados,
porque ele há de ser teu sustento.

III

17 Eu, porém, clamo a Deus em meu pranto, *
e o Senhor me haverá de salvar!
18 Desde a tarde, à manhã, ao meio-dia, *
faço ouvir meu lamento e gemido.

19 O Senhor há de ouvir minha voz, *
libertando a minh’alma na paz,
– derrotando os meus agressores, *
porque muitos estão contra mim!

20 Deus me ouve e haverá de humilhá-los, *
porque é Rei e Senhor desde sempre.
– Para os ímpios não há conversão, *
pois não temem a Deus, o Senhor.

21 Erguem a mão contra os próprios amigos, *
violando os seus compromissos;
22 sua boca está cheia de unção, *
mas o seu coração traz a guerra;
– suas palavras mais brandas que o óleo, *
na verdade, porém, são punhais.

23 Lança sobre o Senhor teus cuidados, *
porque ele há de ser teu sustento,
– e jamais ele irá permitir *
que o justo para sempre vacile!

24 Vós, porém, ó Senhor, os lançais *
no abismo e na cova da morte.
– Assassinos e homens de fraude *
não verão a metade da vida.
– Quanto a mim, ó Senhor, ao contrário: *
ponho em vós toda a minha esperança!

Ant. Lança sobre o Senhor teus cuidados,
porque ele há de ser teu sustento.

V. Fazei brilhar vosso semblante ao vosso servo.
R. E ensinai-me vossas leis e mandamentos!
 

Primeira leitura

Do Livro do Profeta Daniel             10,1-21

Visão do homem e aparição do anjo

No terceiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, revelou-se interiormente a Daniel, apelidado Baltasar, uma palavra, cheia de verdade e de significado. Ele entendeu a palavra e soube interpretar a visão interior. 2Naqueles dias, eu, Daniel, estive de luto durante três semanas: 3não comi nada de pão, não me entraram na boca nem carne nem vinho, não usei unguentos nem perfumes, até se completarem três semanas.

4 No dia vinte e quatro do primeiro mês, encontrava-me à beira do grande rio Tigre, 5quando, levantando os olhos, vi um homem vestido com roupas de linho e ostentando um cinturão de ouro; 6seu corpo parecia de pedra dourada; o rosto tinha uma aparência brilhante; seus olhos eram como tochas ardentes; dos braços aos pés, o aspecto era de bronze polido, e o rumor de suas palavras parecia o de uma multidão. 7Somente eu, Daniel, tive essa visão; ora, as pessoas que estavam comigo nada viram da visão, mas, tomadas de pânico, fugiram para esconder-se. 8Eu, deixado sozinho, vendo essa estranha visão, não tive mais resistência: meu aspecto mudou até perder a cor, e as forças me abandonaram. 9Eu ouvi as palavras da visão; e ao ouvir o som dessas palavras, caí prostrado como rosto por terra.

10 Eis que uma mão me tocou e me fez levantar sobre os joelhos e as palmas das mãos, 11e me disse: “Daniel, homem muito estimado, procura entender o que te vou dizer, e põe-te de pé; eu fui enviado a ti”. Ao dizer estas palavras, eu me pus de pé, a tremer. 12Disse-me então: “Não tenhas medo, pois desde o primeiro dia em que te aplicaste à contemplação e à virtude diante do teu Deus, foram ouvidas as tuas súplicas, e eu aqui estou por causa de tuas palavras. 13O príncipe do reino dos persas resistiu-me durante vinte e um dias; eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu auxílio; e eu, então, me deixei ficar lá, ao lado do rei dos persas. 14Vim para te dizer o que irá acontecer ao teu povo nos últimos dias, pois a visão ainda se prolongará.” 15Enquanto ele me falava nesses termos, inclinei o meu rosto para o chão, em silêncio. 16De repente, um ser de aparência humana me tocou os lábios. Abri a boca para falar e disse ao que estava à minha frente: “Senhor meu, estou perturbado com esta visão, não tenho mais força alguma. 17Como poderá este teu servo falar com o seu Senhor? Pois não me restam mais forças, nem eu tenho mais fôlego”. 18Então o ser de aparência humana tocou-me de novo e encorajou-me, dizendo: 19“Não temas, caríssimo. Paz! Coragem! Sê firme!” Ao falar comigo, senti-me melhor, e então eu disse: “Agora fala, meu Senhor, pois me fortaleceste”.

20 Disse-me ele: “Acaso sabes por que vim ter contigo? Pois estou de volta para combater contra o príncipe dos persas. Eu estou partindo, mas eis que o príncipe dos gregos está chegando. 21Contudo o que eu te anunciar está expresso na escritura da verdade. Contra eles ninguém me ajudará, a não ser Miguel, o vosso príncipe”.

Responsório Dn 10,12.19a.21a

R. Desde o dia inicial, em que aplicaste o coração
a compreender e a humilhar-te, perante o teu Senhor,
* Foram ouvidas tuas palavras por causa de tuas preces.
V. Não tenhas medo, Daniel, vou explicar-te as palavras
da Escritura da Verdade. * Foram ouvidas.

Segunda leitura

Das Cartas de Sulpício Severo

(Epist.3,6.9-10.11.14-17.21: SCh 133,336-344)            (Séc.V)

Martinho, pobre e humilde

Martinho soube com muita antecedência o dia da sua morte e comunicou aos irmãos estar iminente a dissolução de seu corpo. Entretanto, surgiu a necessidade de ir à diocese de Candax, pois os eclesiásticos desta Igreja estavam em discórdia. Desejando restabelecer a paz, embora não ignorasse o fim de seus dias, não recusou partir, julgando que seria um excelente fecho de suas obras deixar a Igreja em paz.

Demorou-se por algum tempo na aldeia e na Igreja aonde fora, e a paz voltou para os clérigos. Quando já pensava em regressar ao mosteiro, começaram de repente a faltar-lhe as forças e, chamando os irmãos, disse-lhes que ia morrer. Diante disto todos se entristeceram grandemente, chorando e dizendo, a uma só voz: “Por que, pai, nos abandonas? A quem nos entregas, desolados? Lobos vorazes invadem teu rebanho; quem, ferido o pastor, nos livrará de seus dentes? Sabemos que desejas a Cristo, mas teus prêmios já estão seguros e não diminuirão com o adiamento! Tem compaixão de nós, a quem desamparas!” 

Comovido com estas lágrimas, ele que sempre possuíra entranhas de misericórdia, também chorou, segundo contam. Voltando-se então para o Senhor, respondeu aos queixosos somente com estas palavras: “Senhor, se ainda sou necessário a teu povo, não recuso o trabalho. Que se faça tua vontade”.

Que homem incomparável! O trabalho não o vence, a morte não o vencerá! Ele, que não se inclinava para nenhum dos lados, não temeria morrer e nem recusaria viver! No entanto, olhos e mãos sempre erguidos para o céu, não abandonava a oração o espírito invicto; e quando os presbíteros, que se haviam reunido junto dele, lhe pediram aliviar o frágil corpo, virando-o para o lado, disse: “Deixai-me, deixai-me, irmãos, olhar para o céu de preferência à terra, para que o espírito já se dirija ao caminho que o levará ao Senhor”. Dito isto, viu o demônio ali perto. “Por que estás aqui, fera nefasta? Nada em mim, ó cruel, encontrarás! O seio de Abraão me acolhe”.

Com estas palavras entregou o espírito ao céu. Martinho, feliz, é recebido no seio de Abraão; Martinho, pobre e humilde, entra rico no céu.

Responsório

R. Ó bispo São Martinho, realmente homem feliz!
Jamais foi encontrada, em seus lábios, a mentira;
a ninguém ele julgava e nunca condenava.
* Não havia em sua boca outra coisa a não ser
Jesus Cristo, a paz, o amor.
V. Homem digno de louvor!
Nem trabalho o derrotou, nem a morte o venceria,
nem morrer o apavorou e a viver não recusou.
* Não havia.


Oração

Ó Deus, que fostes glorificado pela vida e a morte do bispo São Martinho, renovai em nossos corações as maravilhas da vossa graça, de modo que nem a morte nem a vida nos possam separar do vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.