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VII. A paixão e a ressurreição

26 Conspiração contra Jesus 1Quando Jesus terminou essas palavras todas, disseaos discípulos: 2“Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”. 3Então os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo congregaram-se no pátio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, 4e decidiram juntos que prenderiam a Jesus por um ardil e o matariam. 5Diziam, contudo: “Não durante a festa, para não haver tumulto no meio do povo”.

A unção em Betânia 6Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso,7aproximou-se dele uma mulher trazendo um frasco de alabastro de perfume precioso e pôs-se a derramá-lo sobre a cabeça de Jesus, enquanto ele estava à mesa. 8Ao verem isso, os discípulos ficaram indignados e diziam: “A troco do que esse desperdício? 9Pois isso poderia ser vendido bem caro e distribuído aos pobres”. 10Mas Jesus, ao perceber essas palavras, disse-lhes: “Por que aborreceis a mulher? Ela, de fato, praticou uma boa ação para comigo. 11Na verdade, sempre tereis os pobres convosco, mas a mim nem sempre tereis. 12Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para me sepultar. 13Em verdade vos digo que, onde quer que venha a ser proclamado o Evangelho, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória”.

A traição de Judas 14Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi até os chefesdos sacerdotes 15e disse: “O que me dareis se eu o entregar?” Fixaram-lhe, então, a

quantia de trinta moedas de prata. 16E a partir disso, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo.

Preparativos para a ceia pascal 17No primeiro dia dos ázimos, os discípulosaproximaram-se de Jesus dizendo: “Onde queres que te preparemos para comer a Páscoa?” 18Ele respondeu: “Ide à cidade, à casa de alguém e dizei-lhe: ‘O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa irei celebrar a Páscoa com meus discípulos’”. 19Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa.

Anúncio da traição de Judas 20Ao cair da tarde, ele pôs-se a mesa com os Doze21e,enquanto comiam, disse-lhes: “Em verdade vos digo que um de vós me entregará”. 22Eles, muito entristecidos, puseram-se um por um — a perguntar-lhe: “Acaso sou eu, Senhor?” 23Ele respondeu: “O que comigo põe a mão no prato, esse me entregará. 24Com efeito, o Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! Melhor seria para aquele homem não ter nascido!” 25Então Judas, seu traidor, perguntou: “Porventura sou eu, Rabi?” Jesus respondeu-lhe: “Tu o dizes”.

Instituição da eucaristia 26Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo-oabençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. 27Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: “Bebei dele todos, 28pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados. 29Eu vos digo: desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino do meu Pai”.

A negação de Pedro é predita 30Depois de terem cantado o hino, saíram para omonte das Oliveiras. 31Jesus disse-lhes então: “Essa noite todos vós vos escandalizarei por minha causa, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão. 32Mas, depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galiléia”. 33Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: “Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei”. 34Jesus declarou: “Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes!” 35Ao que Pedro disse: “Mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei”. O mesmo disseram todos os discípulos.

No Getsêmani 36Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse aosdiscípulos: “Sentai-vos aí enquanto vou até ali para orar”. 37Levando Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer- se e a angustiar-se. 38Disse-lhes, então: “Minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo”. 39E, indo um pouco adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres”. 40E, ao voltar para junto dos discípulos, encontra-os dormindo. E diz a Pedro: “Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! 41Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. 42Afastando-se de novo pela segunda vez, orou: “Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!” 43E ao voltar de novo, encontrou-os dormindo, pois os seus olhos estavam pesados de sono. 44Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras. 45Vem, então, para junto dos discípulos e lhes diz: “Dormi agora e repousai: eis que a hora está chegando e o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores. 46Levantai-vos! Vamos! Eis que meu traidor está chegando”.

Prisão de Jesus 47E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos Dozeacompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. 48O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: “É aquele que eu beijar; prendei-o”. 49E logo, aproximando-se de Jesus, disse: “Salve, Rabi!” e o beijou. 50Jesus respondeu-lhe: “Amigo, para que estás aqui?” Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam. 51E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, desembainhou a espada e, ferindo o servo do Sumo Sacerdote, decepou-lhe a orelha. 52Mas Jesus lhe disse: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. 53Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? 54E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?” 55E naquela hora, disse Jesus às multidões: “Como a um ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu me sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes”. 56Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.

Jesus perante o Sinédrio 57Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo SacerdoteCaifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos. 58Pedro seguiu-o de longe até o pátio do Sumo Sacerdote e, penetrando no interior, sentou-se com os servidores para ver o fim. 59Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, 60mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, se apresentaram duas 61que afirmaram: “Este homem declarou: Posso destruir o Templo de Deus e edificá-lo depois de três dias”. 62Levantando-se então o Sumo Sacerdote, disse-lhe: “Nada respondes? O que testemunham estes contra ti?” 63Jesus, porém, ficou calado. E o Sumo Sacerdote lhe disse: “Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus”. 64Jesus respondeu: “Tu o disseste. Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. 65O Sumo Sacerdote então rasgou suas vestes, dizendo: “Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Vede: vós ouvistes neste instante a blasfêmia. 66Que pensais?” Eles responderam: “É réu de morte”. 67E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, 68dizendo: “Faze-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?”

Negações de Pedro 69Pedro estava sentado fora, no pátio. Aproximou- se dele umacriada, dizendo: “Também tu estavas com Jesus, o Galileu!” 70Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: “Não sei o que dizes. ” 71Saindo para o pórtico, uma outra viu-o e disse aos que ali estavam: “Ele estava com Jesus, o Nazareu”. 72De novo ele negou, jurando que não conhecia o homem. 73Pouco depois, os que lá estavam disseram a Pedro: “De fato, também tu és um deles; pois o teu dialeto te denuncia”. 74Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: “Não conheço o homem!” E imediatamente o galo cantou. 75E Pedro se lembrou da palavra que Jesus dissera: “Antes que o galo cante, três vezes me negarás”. Saindo dali, ele chorou amargamente.