IV Semana do Saltério
Ofício das Leituras
V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém. Aleluia.
Hino
Oh vinde depressa,
do seio da virgem,
Beleza dos céus!
O mundo admire:
um tal nascimento
é digno de Deus.
Não germe de homem,
mas sopro divino
no seio o gerou.
O verbo de Deus
se fez nossa carne,
o ventre deu flor.
A vida já cresce
no seio da Virgem
que guarda a pureza.
Deus mora em seu templo
e brilha a virtude
em toda a grandeza.
Que venha o herói
que é homem e é Deus,
do quarto nupcial,
correr glorioso
seu nobre caminho,
a trilha real.
Igual a Deus Pai,
reveste dos homens
a carne, a fraqueza,
e, desta maneira,
nos dá a virtude,
de Deus fortaleza.
Já brilha o presépio,
e um novo esplendor
a noite nos traz.
Que fujam as trevas,
a fé resplandeça
e reine a paz.
A vós, Rei piedoso,
e ao Pai que nos ama,
a glória convém.
Com vosso Espírito
reinais sobre o mundo
nos séculos. Amém.
Salmodia
Ant. 1 Ó Senhor, chegue até vós o meu clamor,
não me oculteis a vossa face em minha dor!
Salmo 101(102)
Anseios e preces de um exilado
Bendito seja Deus que nos consola em todas as nossas aflições! (2Cor 1,4).
I
–2 Ouvi, Senhor, e escutai minha oração, *
e chegue até vós o meu clamor!
–3 De mim não oculteis a vossa face *
no dia em que estou angustiado!
– Inclinai o vosso ouvido para mim, *
ao invocar-vos atendei-me sem demora!
–4 Como fumaça se desfazem os meus dias, *
estão queimando como brasas os meus ossos.
–5 Meu coração se tornou seco igual à erva, *
até esqueço de tomar meu alimento.
–6 À força de gemer e lamentar, *
tornei-me tão-somente pele e osso.
–7 Eu pareço um pelicano no deserto, *
sou igual a uma coruja entre ruínas.
–8 Perdi o sono e passo a noite a suspirar *
como a ave solitária no telhado.
–9 Meus inimigos me insultam todo o dia, *
enfurecidos lançam pragas contra mim.
–10 É cinza em vez de pão minha comida, *
minha bebida eu misturo com as lágrimas.
–11 Em vossa indignação, em vossa ira *
me exaltastes, mas depois me rejeitastes;
–12 os meus dias como sombras vão passando, *
e aos poucos vou murchando como a erva.
Ant. Ó Senhor, chegue até vós o meu clamor,
não me oculteis a vossa face em minha dor!
Ant. 2 Ouvi, Senhor, a oração dos oprimidos!
II
–13 Mas vós, Senhor, permaneceis eternamente, *
de geração em geração sereis lembrado!
–14 Levantai-vos, tende pena de Sião, *
já é tempo de mostrar misericórdia!
–15 Pois vossos servos têm amor aos seus escombros *
e sentem compaixão de sua ruína.
–16 As nações respeitarão o vosso nome, *
e os reis de toda a terra, a vossa glória;
–17 quando o Senhor reconstruir Jerusalém *
e aparecer com gloriosa majestade,
–18 ele ouvirá a oração dos oprimidos *
e não desprezará a sua prece.
–19 Para as futuras gerações se escreva isto, *
e um povo novo a ser criado louve a Deus.
–20 Ele inclinou-se de seu templo nas alturas, *
e o Senhor olhou a terra do alto céu,
–21 para os gemidos dos cativos escutar *
e da morte libertar os condenados.
–22 Para que cantem o seu nome em Sião *
e louve ao Senhor Jerusalém,
–23 quando os povos e as nações se reunirem *
e todos os impérios o servirem.
Ant. Ouvi, Senhor, a oração dos oprimidos!
Ant. 3 A terra, no princípio, vós criastes,
e os céus, por vossas mãos, foram criados.
III
–24 Ele abateu as minhas forças no caminho *
e encurtou a duração da minha vida.
= Agora eu vos suplico, ó meu Deus; †
25 não me leveis já na metade dos meus dias, *
vós, cujos anos são eternos, ó Senhor!
–26 A terra no princípio vós criastes, *
por vossas mãos também os céus foram criados;
–27 eles perecem, vós porém permaneceis; *
como veste os mudais e todos passam;
– ficam velhos todos eles como roupa, *
28 mas vossos anos não têm fim, sois sempre o mesmo!
=29 Assim também a geração dos vossos servos †
terá casa e viverá em segurança, *
e ante vós se firmará sua descendência.
Ant. A terra, no princípio, vós criastes,
e os céus, por vossas mãos, foram criados.
V. Ele anuncia a Jacó sua palavra.
R. Seus preceitos, suas leis a Israel.
Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 51,17–52,1-2.7-10
Anuncia-se a salvação a Jerusalém
51,17 Levanta-te, levanta-te, põe-te de pé, Jerusalém,
tu que bebeste da mão do Senhor o cálice de sua ira;
bebeste a taça do torpor, e a esgotaste.
18 Não há quem a sustente
dentre os filhos que gerou;
não há quem segure a sua mão
dentre os filhos que criou.
19 Estes dois males te sobrevieram;
quem terá pena de ti?
O saque e a ruína, a fome e a espada;
quem poderá consolar-te?
20 Teus filhos não resistiram,
jazem por todas as esquinas,
como gazelas presas no laço,
alvo da plena indignação do Senhor,
das ameaças do teu Deus.
21 Ouve, portanto, pobre criatura,
bêbada sem vinho.
22 Isto diz o teu Senhor,
o Senhor teu Deus, que toma a defesa do seu povo:
“Eis que tirei de tuas mãos o cálice do torpor,
a taça de minha indignação;
não mais voltarás a bebê-lo.
23 Vou pô-lo na mão dos que te humilharam
e te disseram: ‘Abaixa-te, que queremos passar;’
e lhes deste o dorso como chão que se pisa
e como caminho por onde se passa”.
52,1 Levanta-te, levanta-te,
retoma tua força, Sião;
reveste-te de tua glória,
Jerusalém, cidade santa,
porque não mais tornarão a passar por tuas ruas
o incircunciso e o imundo.
2 Sacode a poeira, levanta-te,
Jerusalém prisioneira;
retira as amarras do pescoço,
Sião cativa.
7 Como são belos, andando sobre os montes,
os pés de quem anuncia e prega a paz,
de quem anuncia o bem e prega a salvação
e diz a Sião: “Reina teu Deus!”
8 Ouve-se a voz de teus vigias, eles levantam a voz,
estão exultantes de alegria,
sabem que verão com os próprios olhos
o Senhor voltar a Sião.
9 Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo,
ó ruínas de Jerusalém,
o Senhor consolou seu povo
e resgatou Jerusalém.
10 O Senhor desnudou seu santo braço
aos olhos de todas as nações;
todos os confins da terra hão de ver
a salvação que vem do nosso Deus.
Responsório Cf. Ex 19,10.11; Dt 7,15; Dn 9,24
R. Filhos de Deus, purificai-vos:
Amanhã virá o Senhor,
* E extinguirá os nossos males.
V. Amanhã será varrida da terra a iniqüidade
e sobre nós há de reinar o Salvador do mundo.
* E extinguirá.
Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 185: PL 38, 997-999) (Séc. V)
A verdade brotou da terra e a justiça olhou do alto do céu
Desperta, ó homem: por tua causa Deus se fez homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá (Ef 5,14). Por tua causa, repito, Deus se fez homem.
Estarias morto para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te.
Celebremos com alegria a vinda da nossa salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão breve.
Ele se tornou para nós justiça, santificação e libertação, para que, como está escrito, “quem se gloria, glorie-se no Senhor” (1Cor 1,30-31).
A verdade brotará da terra (Sl 84,12), o Cristo que disse: eu sou a verdade (Jo 14,6), nasceu da Virgem. E a justiça olhou do alto do céu (cf. Sl 84,12), porque o homem, crendo naquele que nasceu, é justificado não por si mesmo, mas por Deus.
A verdade brotou da terra porque o Verbo se fez carne (Jo 1,14). E a justiça olhou do alto do céu porque todo o dom precioso e toda a dádiva perfeita vêm do alto (Tg 1,17).
A verdade brotou da terra, isto é, da carne de Maria. E a justiça olhou do alto do céu porque o homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu (Jo 3,27).
Justificados pela fé, estamos em paz com Deus (Rm 5,1) porque a justiça e a paz se beijaram (cf. Sl 84,11) por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, pois a verdade brotou da terra. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus (Rm 5,2). Não disse “de nossa glória”, mas da glória de Deus, porque a justiça não procede de nós, mas olha do alto do céu. Portanto, quem se gloria não se glorie em si mesmo, mas no Senhor.
Eis por que, quando o Senhor nasceu da Virgem, os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14 Vulgata).
Como veio a paz à terra senão por ter a verdade brotado da terra, isto é, Cristo ter nascido em carne humana? Ele é a nossa paz: de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14), para que fôssemos homens de boa vontade, unidos uns aos outros pelo suave vínculo da caridade.
Alegremo-nos com esta graça, para que nossa glória seja o testemunho da nossa consciência, e assim nos gloriaremos, não em nós mesmos, mas no Senhor. Por isso disse o Salmista: Vós sois a minha glória que levanta a minha cabeça (Sl 3,4). Na verdade, que graça maior Deus poderia nos conceder do que, tendo um único Filho, fazê-lo Filho do homem e reciprocamente fazer os filhos dos homens serem filhos de Deus?
Procurai o mérito, procurai a causa, procurai a justiça; e vede se encontrais outra coisa que não seja a graça de Deus.
Responsório Is 11,1.5.2
R. Do tronco de Jessé um rebento sairá
e de suas raízes um broto há de nascer.
* A justiça é seu cinto, a franqueza, a sua veste.
V. Pousará sobre ele o Espírito Santo
de sabedoria e de entendimento,
de conselho e de força. * A justiça.
Oração
Apressai-vos e não tardeis, Senhor Jesus, para que a vossa chegada renove as forças dos que confiam em vosso amor. Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.