Prece de um homem gravemente enfermo

Esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas (Lc 22,53). 

2 A vós clamo, Senhor, sem cessar, todo o dia, * 
e de noite se eleva até vós meu gemido. 
3 Chegue a minha oração até a vossa presença, * 
inclinai vosso ouvido a meu triste clamor! 

4 Saturada de males se encontra a minh’alma, * 
minha vida chegou junto às portas da morte. 
5 Sou contado entre aqueles que descem à cova, * 
toda gente me vê como um caso perdido! 

6 O meu leito já tenho no reino dos mortos, * 
como um homem caído que jaz no sepulcro, 
– de quem mesmo o Senhor se esqueceu para sempre * 
e excluiu por completo da sua atenção. 

7 Ó Senhor, me pusestes na cova mais funda, * 
nos locais tenebrosos da sombra da morte. 
8 Sobre mim cai o peso do vosso furor, * 
vossas ondas enormes me cobrem, me afogam.

9 Afastastes de mim meus parentes e amigos, * 
para eles tornei-me objeto de horror. 
– Eu estou aqui preso e não posso sair, * 
10 e meus olhos se gastam de tanta aflição. 

– Clamo a vós, ó Senhor, sem cessar, todo o dia, * 
minhas mãos para vós se levantam em prece. 
11 Para os mortos, acaso, faríeis milagres? * 
poderiam as sombras erguer-se e louvar-vos? 

12 No sepulcro haverá quem vos cante o amor * 
e proclame entre os mortos a vossa verdade? 
13 Vossas obras serão conhecidas nas trevas, * 
vossa graça, no reino onde tudo se esquece? 

14 Quanto a mim, ó Senhor, clamo a vós na aflição, * 
minha prece se eleva até vós desde a aurora. 
15 Por que vós, ó Senhor, rejeitais a minh’alma? * 
E por que escondeis vossa face de mim? 

16 Moribundo e infeliz desde o tempo da infância, * 
esgotei-me ao sofrer sob o vosso terror. 
17 Vossa ira violenta caiu sobre mim * 
e o vosso pavor reduziu-me a um nada! 

18 Todo dia me cercam quais ondas revoltas, * 
todos juntos me assaltam, me prendem, me apertam. 
19 Afastastes de mim os parentes e amigos, * 
e por meus familiares só tenho as trevas!