Ofício das Leituras
V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Hino
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
O Criador teve pena
do primitivo casal,
que foi ferido de morte,
comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore,
para curar-nos do mal.
Tal ordem foi exigida
na obra da salvação:
cai o inimigo no laço
de sua própria invenção.
Do próprio lenho da morte
Deus fez nascer redenção.
Na plenitude dos tempos,
a hora santa chegou
e, pelo Pai enviado,
nasceu do mundo o autor;
e duma Virgem no seio
a nossa carne tomou.
Seis lustros tendo passado,
cumpriu a sua missão.
Só para ela nascido,
livre se entrega à Paixão.
Na cruz se eleva o Cordeiro,
como perfeita oblação.
Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor.
Salmodia
Ant. 1 Inclinai o vosso ouvido para mim,
apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me!
Salmo 30(31),2-17.20-25
Súplica confiante do aflito
Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23,46).
I
–2 Senhor, eu ponho em vós minha esperança; *
que eu não fique envergonhado eternamente!
= Porque sois justo, defendei-me e libertai-me, †
3 inclinai o vosso ouvido para mim; *
apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me!
– Sede uma rocha protetora para mim, *
um abrigo bem seguro que me salve!
–4 Sim, sois vós a minha rocha e fortaleza; *
por vossa honra orientai-me e conduzi-me!
–5 Retirai-me desta rede traiçoeira, *
porque sois o meu refúgio protetor!
–6 Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, *
porque vós me salvareis, ó Deus fiel!
–7 Detestais os que adoram deuses falsos; *
quanto a mim, é ao Senhor que me confio.
=8 Vosso amor me faz saltar de alegria, †
pois olhastes para as minhas aflições *
e conhecestes as angústias de minh’alma.
–9 Não me entregastes entre as mãos do inimigo, *
mas colocastes os meus pés em lugar amplo!
Ant. Inclinai o vosso ouvido para mim,
apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me!
Ant. 2 Mostrai serena a vossa face ao vosso servo.
II
=10 Tende piedade, ó Senhor, estou sofrendo: †
os meus olhos se turvaram de tristeza, *
o meu corpo e minha alma definharam!
–11 Minha vida se consome em amargura, *
e se escoam os meus anos em gemidos!
– Minhas forças se esgotam na aflição, *
e até meus ossos, pouco a pouco, se desfazem!
–12 Tornei-me o opróbrio do inimigo, *
o desprezo e zombaria dos vizinhos,
– e objeto de pavor para os amigos; *
fogem de mim os que me vêem pela rua.
–13 Os corações me esqueceram como um morto, *
e tornei-me como um vaso espedaçado.
–14 Ao redor, todas as coisas me apavoram; *
ouço muitos cochichando contra mim;
– todos juntos se reúnem, conspirando *
e pensando como vão tirar-me a vida.
–15 A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio, *
e afirmo que só vós sois o meu Deus!
–16 Eu entrego em vossas mãos o meu destino; *
libertai-me do inimigo e do opressor!
–17 Mostrai serena a vossa face ao vosso servo, *
e salvai-me pela vossa compaixão!
Ant. Mostrai serena a vossa face ao vosso servo.
Ant. 3 Seja bendito o Senhor Deus
por seu amor maravilhoso!
III
–20 Como é grande, ó Senhor, vossa bondade, *
que reservastes para aqueles que vos temem!
– Para aqueles que em vós se refugiam, *
mostrando, assim, o vosso amor perante os homens.
–21 Na proteção de vossa face os defendeis *
bem longe das intrigas dos mortais.
– No interior de vossa tenda os escondeis, *
protegendo-os contra as línguas maldizentes.
–22 Seja bendito o Senhor Deus, que me mostrou *
seu grande amor numa cidade protegida!
–23 Eu que dizia quando estava perturbado: *
“Fui expulso da presença do Senhor!”
– Vejo agora que ouvistes minha súplica, *
quando a vós eu elevei o meu clamor.
=24 Amai o Senhor Deus, seus santos todos, †
ele guarda com carinho seus fiéis, *
mas pune os orgulhosos com rigor.
–25 Fortalecei os corações, tende coragem, *
todos vós que ao Senhor vos confiais!
Ant. Seja bendito o Senhor Deus
por seu amor maravilhoso!
V. Quando eu for elevado da terra,
R. Atrairei para mim todo ser.
Primeira leitura
Da Carta aos Hebreus 10,19-39
Perseverança na fé. Expectativa do dia do julgamento
19Irmãos, temos plena liberdade para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus. 20Ele nos abriu um caminho novo e vivo, através da cortina,quer dizer, através da sua humanidade. 21Temos um grande sacerdote constituído sobre a casa de Deus. 22Aproximemo-nos, portanto, de coração sincero e cheio de fé, com coração purificado de toda a má consciência e o corpo lavado com água pura. 23Sem desânimo, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa. 24Sejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar à caridade e às boas obras. 25Não abandonemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente, e tanto mais quanto vedes o dia aproximar-se.
26De fato, se preferirmos continuar pecando, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não há sacrifícios que possam tirar os nossos pecados. 27Fica apenas a terrível expectativa do julgamento e o ardor de um fogo para devorar os rebeldes. 28Quem desobedece à Lei de Moisés, é condenado à morte, sem piedade, tendo como base o testemunho de duas ou três pessoas. 29Podeis então imaginar o castigo bem mais severo, que merecerá aquele que pisou o Filho de Deus, que profanou o sangue da Aliança, pelo qual foi santificado, e que insultou o Espírito da graça! 30Conhecemos aquele que disse: “A mim pertence a vingança, eu é que retribuirei”. E ainda: “O Senhor julgará o seu povo”. 31É terrível cair nas mãos do Deus vivo!
32Lembrai-vos dos primeiros dias, quando, apenas iluminados, suportastes longas e dolorosas lutas. 33Às vezes, éreis apresentados como espetáculo, debaixo de injúrias e tribulações; outras vezes vos tornáveis solidários dos que assim eram tratados. 34Com efeito, participastes dos sofrimentos dos prisioneiros e aceitastes com alegria o confisco dos vossos bens, na certeza de possuir uma riqueza melhor e mais durável. 35Não abandoneis, pois, a vossa coragem, que merece grande recompensa. 36De fato, precisais de perseverança para cumprir a vontade de Deus e alcançar o que ele prometeu.
37Porque ainda bem pouco tempo,
e aquele que deve vir, virá e não tardará.
38O meu justo viverá por causa de sua fidelidade,
mas, se esmorecer,
não encontrarei mais satisfação nele.
39Nós não somos desertores, para a perdição. Somos homens da fé, para a salvação da alma.
Responsório Hb 10,35a.36; Lc 21,19
R. Não percais a confiança na palavra do Senhor;
é preciso ter constância
* Em fazer sua vontade e alcançar suas promessas.
V. Pela vossa persistência, salvareis as vossas vidas.
* Em fazer.
Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo Guelferbytanus 3:PLS 2,545-546)
(Séc.V)
Gloriemo-nos também nós na Cruz do Senhor!
A Paixão de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é para nós penhor de glória e exemplo de paciência.
Haverá alguma coisa que não possam esperar da graça divina os corações dos fiéis, pelos quais o Filho unigênito de Deus, eterno como o Pai, não apenas quis nascer como homem entre os homens, mas quis também morrer pelas mãos dos homens que tinha criado?
Grandes coisas o Senhor nos promete no futuro! Mas o que ele já fez por nós e agora celebramos é ainda muito maior. Onde estávamos ou quem éramos, quando Cristo morreu por nós pecadores? Quem pode duvidar que ele dará a vida aos seus fiéis, quando já lhes deu até a sua morte? Por que a fraqueza humana ainda hesita em acreditar que um dia os homens viverão em Deus?
Muito mais incrível é o que já aconteceu: Deus morreu pelos homens.
Quem é Cristo senão aquele que no princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus: e a Palavra era Deus? (Jo 1,1). Essa Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Se não tivesse tomado da nossa natureza a carne mortal, Cristo não teria possibilidade de morrer por nós. Mas deste modo o imortal pôde morrer e dar sua vida aos mortais. Fez-se participante de nossa morte para nos tornar participantes da sua vida. De fato, assim como os homens, pela sua natureza, não tinham possibilidade alguma de alcançar a vida, também ele, pela sua natureza, não tinha possibilidade alguma de sofrer a morte.
Por isso entrou, de modo admirável, em comunhão conosco: de nós assumiu a mortalidade, o que lhe possibilitou morrer; e dele recebemos a vida.
Portanto, de modo algum devemos envergonhar-nos da morte de nosso Deus e Senhor; pelo contrário, nela devemos confiar e gloriar-nos acima de tudo. Pois tomando sobre si a morte que em nós encontrou, garantiu com total fidelidade dar-nos a vida que não podíamos obter por nós mesmos.
Se ele tanto nos amou, a ponto de, sem pecado, sofrer por nós pecadores, como não dará o que merecemos por justiça, fruto da sua justificação? Como não dará a recompensa aos justos, ele que é fiel em suas promessas e, sem pecado, suportou o castigo dos pecadores?
Reconheçamos corajosamente, irmãos, e proclamemos bem alto que Cristo foi crucificado por amor de nós; digamos não com temor, mas com alegria, não com vergonha, mas com santo orgulho.
O apóstolo Paulo compreendeu bem esse mistério e o proclamou como um título de glória. Ele, que teria muitas coisas grandiosas e divinas para recordar a respeito de Cristo, não disse que se gloriava dessas grandezas admiráveis – por exemplo, que sendo Cristo Deus como o Pai, criou o mundo; e, sendo homem como nós, manifestou o seu domínio sobre o mundo – mas afirmou: Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo (Gl 6,14).
Responsório
R. Adoramos, Senhor, a vossa cruz,
vossa paixão gloriosa recordamos.
* Vós que sofrestes por nós, tende piedade!
V. Suplicantes, Senhor, vos imploramos:
vinde logo ajudar os vossos servos,
que remistes pelo sangue precioso.
* Vós que sofrestes.
Oração
Concedei, ó Deus, ao vosso povo, que desfalece por sua fraqueza, recobrar novo alento pela Paixão do vosso Filho. Que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.